Wednesday, January 1, 2014

Anemia hemolítica adquirida - Quadro clínico e diagnóstico

Anemia hemolítica adquirida - Quadro clínico e diagnóstico

3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
O quadro clínico é caracterizado por anemia acompanhada de icterícia decorrente do aumento da
concentração sérica de bilirrubina indireta, por incapacidade do fígado de conjugar a bilirrubina resultante do metabolismo
do heme liberado da molécula da hemoglobina.
A anemia é do tipo normocrômica com reticulocitose. A hematoscopia pode mostrar alterações morfológicas
do eritrócito, com poiquilocitose, policromasia, eritrócitos fragmentados e restos de membrana celular. A medula óssea
pode mostrar hiperplasia da série eritróide, acompanhada, às vezes, por aumento das outras séries e com repercussão
periférica de leve aumento numérico das plaquetas.
As dosagens de hemoglobina livre no plasma, bilirrubina indireta e lactato desidrogenase (LDH) estão
aumentadas. O teste de Coombs é negativo. Os casos secundários à exposição ocupacional a agentes como a arsina,
o chumbo e o mercúrio podem ser confirmados pela dosagem sérica ou urinária desses agentes.



Fonte: Doenças do Trabalho

Anemia hemolítica adquirida - Epidemiologia e Fatores de risco

Anemia hemolítica adquirida - Epidemiologia e Fatores de risco

2 EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS
A diminuição da sobrevida e a destruição dos glóbulos ocorrem por ação de substâncias tóxicas, agentes
infecciosos, anticorpos e trauma físico. Entre as substâncias tóxicas que podem estar presentes em ambientes de
trabalho, estão:
- derivados nitrados e aminados do benzeno;
- arsina;
- chumbo;
- mercúrio;
- cobre;
- manganês.
Em trabalhadores expostos, nos quais outras causas não-ocupacionais de anemia hemolítica adquirida
foram excluídas, ela pode ser classificada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de
Schilling, em que o trabalho, particularmente na exposição ocupacional aos derivados aminados do benzeno, à arsina,
ao chumbo, ao mercúrio, ao cobre e ao manganês, pode ser considerado como causa necessária.



Fonte: Doenças do Trabalho

Anemia hemolítica adquirida - Definição da Doença

Anemia hemolítica adquirida - Definição da Doença

8.3.3 ANEMIA HEMOLÍTICA ADQUIRIDA CID-10 D59.2

1 DEFINIÇÃO DA DOENÇA – DESCRIÇÃO
A anemia caracteriza-se pela redução da quantidade de hemoglobina funcional circulante total. Como na prática
não se levam em conta as variações eventuais do volume sangüíneo, a anemia costuma ser definida como a redução da
concentração de hemoglobina do sangue periférico abaixo de 13 g/100 ml no homem, ou de 11 g/100 ml na mulher.
Anemia hemolítica adquirida é a anemia secundária à diminuição da sobrevida ou à destruição de eritrócitos
maduros associada a uma incapacidade da medula óssea de compensar essa diminuição da sobrevida ou destruição.
O mecanismo fisiopatológico da hemólise provocada por substâncias tóxicas ainda não está totalmente
esclarecido. Parece ser devido à exposição de grupos sulfidrílicos da membrana do glóbulo vermelho e sua ligação com
radicais das substâncias tóxicas, formando compostos que alteram a permeabilidade da membrana, permitindo a passagem
de água e cátions, no sentido contrário ao do seu gradiente de concentração, com conseqüente destruição dos glóbulos.



Fonte: Doenças do Trabalho

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Prevenção da Doença

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Prevenção da Doença

5 PREVENÇÃO
A prevenção das anemias devidas a transtornos enzimáticos relacionados ao trabalho consiste, basicamente,
na vigilância dos ambientes e condições de trabalho e na vigilância dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na
introdução deste capítulo. O controle ambiental da exposição a chumbo, hexaclorobenzeno (HCB), herbicidas 2,4-
diclorofenol (2,4-D) e 2,4,5-triclorofenol (2,4,5-T), tetraclorodibenzo-p-dioxina (dioxina), o-benzil-p-clorofenol, 2-benzil-
4,6-diclorofenol, cloreto de vinila e a outros agentes causais pode, efetivamente, reduzir a incidência da doença em
grupos ocupacionais de risco.
As medidas de controle ambiental visam à eliminação da exposição ou à sua manutenção em níveis de
concentração próximos de zero, por meio de:
- enclausuramento de processos e isolamento de setores de trabalho;
- uso de sistemas hermeticamente fechados, na indústria;
- adoção de normas de higiene e segurança rigorosas, com sistemas de ventilação exaustora adequados
e eficientes;
- monitoramento sistemático das concentrações dos agentes no ar ambiente;
- mudanças na organização do trabalho que permitam diminuir o número de trabalhadores expostos e o
tempo de exposição;
- medidas de limpeza geral dos ambientes de trabalho e facilidades para higiene pessoal, como recursos
para banhos, lavagem das mãos, braços, rosto e troca de vestuário;
- fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual adequados, em bom estado
de conservação, nos casos indicados, de modo complementar às medidas de proteção coletiva.

As máscaras protetoras respiratórias devem ser utilizadas como medida temporária, em emergências.
Quando as medidas de proteção coletiva forem insuficientes, estas deverão ser cuidadosamente indicadas para alguns
setores ou funções. Os trabalhadores devem ser treinados apropriadamente para sua utilização. As máscaras devem
ser de qualidade e adequadas às exposições, com filtros químicos ou de poeiras específicos para cada substância
manipulada ou para grupos de substâncias passíveis de serem retidas pelo mesmo filtro. Os filtros devem ser
rigorosamente trocados conforme as recomendações do fabricante. A Instrução Normativa/MTb n.º 1/1994 estabelece
regulamento técnico sobre o uso de equipamentos para proteção respiratória.
Recomenda-se a verificação da adequação e do cumprimento do PPRA (NR 9), do PCMSO (NR 7) e de
outros regulamentos – sanitários e ambientais – existentes nos estados e municípios. A NR 15 define os LT das
concentrações em ar ambiente de várias substâncias químicas, para jornadas de 48 horas semanais de trabalho.
O exame médico periódico objetiva a identificação de sinais e sintomas para a detecção precoce da doença.

Além do exame clínico completo, recomenda-se a utilização de instrumentos padronizados e a realização de exames
complementares adequados ao fator de risco identificado.
Os procedimentos para a vigilância da saúde dos trabalhadores expostos ao cloreto de vinila estão descritos
no protocolo Angiossarcoma do fígado (7.6.2), no capítulo 7. Em relação à exposição ao chumbo, ver o protocolo
Cólica do chumbo (16.3.6), no capítulo 16. Para a exposição ao benzeno, ver o protocolo Anemia aplástica devida a
outros agentes externos (8.3.4), neste capítulo.

Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho, deve-se:
- informar ao trabalhador;
- examinar os expostos, visando a identificar outros casos;
- notificar o caso aos sistemas de informação em saúde (epidemiológica, sanitária e/ou de saúde do
trabalhador), por meio dos instrumentos próprios, à DRT/MTE e ao sindicato da categoria;
- providenciar a emissão da CAT, caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social,
conforme descrito no capítulo 5;
- orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação ou
controle dos fatores de risco.



Fonte: Doenças do Trabalho

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Tratamento de Saúde

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Tratamento de Saúde

4 TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS
A medida terapêutica mais importante é a cessação da exposição. A anemia pode ser corrigida pela terapia
quelante específica. Casos graves podem demandar transfusão de concentrado de hemácias.
Na intoxicação pelo chumbo devem ser considerados os níveis de plumbemia e a possibilidade de que
esses níveis sangüíneos possam estar causando dano e eventual deficiência ou disfunção em outros órgãos, aparelhos,
sistemas ou tipos de células.
Para o estagiamento da deficiência provocada pela anemia, pode-se utilizar, como referência, os parâmetros
propostos pela Associação Médica Americana (AMA), em seus Guides to the Evaluation of Permanent Impairment
(1995), apresentados no protocolo anterior.



Fonte: Doenças do Trabalho

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Quadro clínico e diagnóstico

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Quadro clínico e diagnóstico

3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
A anemia produzida pelo chumbo constitui apenas uma das muitas manifestações do quadro clínico de
intoxicação crônica por esse metal, entre elas, dor abdominal, nefropatia, hipertensão arterial, alterações espermáticas,
neuropatia periférica e encefalopatia. Em adultos, a anemia (e sua sintomatologia) pode ser observada com níveis de
chumbo sangüíneo acima de 50 µg/100 ml.
O estabelecimento do nexo com o trabalho, nos casos secundários à exposição ao chumbo, baseia-se na
história de exposição e na confirmação laboratorial por meio das dosagens de chumbo no sangue e/ou urina. Segundo a
NR 7, o VR da dosagem de chumbo no sangue (Pb-S) é de 40 µg/100 ml e o IBMP é de 60 µg/100 ml, quando significaria
exposição excessiva, compatível com efeitos adversos à saúde do trabalhador. A ACGIH, dos Estados Unidos, recomenda
como índice biológico de exposição o valor de 30 µg/100 ml. Outros achados laboratoriais são a dosagem na urina do
ácido delta-aminolevulínico (ALA-U), cujo VR, no Brasil, é atualmente de 4,5 mg/g de creatinina e o IBMP é de 10 mg/g de
creatinina. Para a zinco protoporfirina no sangue (ZPP-S), o VR é de 40 µg/100 ml e o IBMP é de 100 µg/100 ml.
O hemograma mostra um anemia hipocrômica e microcítica com reticulocitose e a presença de granulações
basófilas nos glóbulos vermelhos, de tamanho maior do que as habituais, variando de 0,25 a 2,00 µm, mais freqüentes
nas células grandes (macrócitos), de forma redonda ou ovóide ou como diplococo, em número variável (até 10 ou 20),
raramente únicos e corados em azul. A disposição dos grãos se faz de modo uniforme, às vezes concentrados num
ponto ou dispostos como uma coroa na periferia do glóbulo.
Em decorrência da inibição da formação do heme, ocorre acúmulo de ferro no interior dos eritroblastos com
formação de siderócitos e sideroblastos, que pode ser detectada pela coloração com corante da Prússia (azuis positivos)
no exame do material obtido por aspiração/biópsia de medula óssea.



Fonte: Doenças do Trabalho

Quadro 16 - Parâmetros para estagiamento da deficiência provocada por anemia

Quadro 16 - Parâmetros para estagiamento da deficiência provocada por anemia

PARÂMETROS PARA ESTAGIAMENTO DA DEFICIÊNCIA PROVOCADA POR ANEMIA
SEGUNDO A ASSOCIAÇÃO MÉDICA AMERICANA




Grau ou Nível 1 Grau ou Nível 2 Grau ou Nível 3 Grau ou Nível 4
Ausência de sintomas Mínimos Moderados a marcantes Moderados a marcantes
Nenhuma Nenhuma 2-3 unidades a cada 4-6 semanas (**) 2-3 unidades a cada 2 semanas (**) 100 - 120
80 - 100 50 - 80 (***) 50 - 80 (***) Nível de Hemoglobina (g/l)
Necessidade de Transfusão Sintomas Estagiamento da Deficiência
* Guides to the Evaluation of Permanent Impairment. (4.ª edição, 1995) ** Implica hemólise de sangue transfundido *** Nível antes da transfusão
Quadro XVI
PEDPA,
A M A (AMA)*
PARÂMETROS PARA ESTAGIAMENTO DA DEFICIÊNCIA PROVOCADA POR ANEMIA
SEGUNDO A ASSOCIAÇÃO MÉDICA AMERICANA
DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO




Fonte: Doenças do Trabalho

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Epidemiologia e Fatores de risco - Chumbo

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Epidemiologia e Fatores de risco - Chumbo

2 EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS
O chumbo é exemplo clássico de agente que interfere na síntese do heme da hemoglobina,
por interferência em sistemas enzimáticos como a ALA-desidratase, a coproporfirinogenase
e a heme-sintetase.
O chumbo também causa hemólise (ver Anemia Hemolítica Adquirida).
Outros exemplos de substâncias tóxicas, presentes em ambientes de trabalho, que podem interferir na
síntese e na biotransformação do heme, incluem:
- hexaclorobenzeno (HCB);
- 2,4-diclorofenol (2,4-D) e 2,4,5-triclorofenol (2,4,5-T)
– herbicidas usados amplamente na agricultura
conhecidos como Tordon, entre outros;
- tetraclorodibenzo-p-dioxina (dioxina)
– contaminante de vários produtos, podendo ser encontrado nas
misturas de 2,4-diclorofenol (2,4-D) e 2,4,5-triclorofenol (2,4,5-T);
- o-benzil-p-clorofenol;
- 2-benzil-4,6-diclorofenol;
- cloreto de vinila.

Em trabalhadores expostos, nos quais outras causas de anemias por transtornos enzimáticos não-
ocupacionais foram excluídas, elas podem ser classificadas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo I da
Classificação de Schilling, em que o trabalho, particularmente na exposição ocupacional ao chumbo e a clorofenóis,
pode ser considerado como causa necessária.
É pouco provável que a doença se desenvolva na sua ausência.



Fonte: Doenças do Trabalho

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Definição da Doença

Anemias devidas a transtornos enzimáticos - Definição da Doença

8.3.2 OUTRAS ANEMIAS DEVIDAS A TRANSTORNOS ENZIMÁTICOS CID-10 D55.8

1 DEFINIÇÃO DA DOENÇA – DESCRIÇÃO
A anemia é caracterizada pela redução da quantidade de hemoglobina funcional circulante total. Como na
prática não se levam em conta as variações eventuais do volume sangüíneo, a anemia costuma ser definida como
redução da concentração de hemoglobina do sangue periférico abaixo de 13 g/100 ml no homem, ou de 11 g/100 ml na
mulher. Anemias por transtornos enzimáticos são aquelas causadas por defeitos da produção da hemácia, particularmente
na síntese da hemoglobina.



Fonte: Doenças do Trabalho

Síndromes mielodisplásicas - Prevenção da Doença

Síndromes mielodisplásicas - Prevenção da Doença

5 PREVENÇÃO
A prevenção das SMD relacionadas ao trabalho consiste, basicamente, na vigilância dos ambientes, das
condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde, conforme descrito na introdução deste capítulo. O controle
ambiental do benzeno e das radiações ionizantes pode, efetivamente, reduzir a incidência da doença nos trabalhadores
expostos. Recomenda-se observar a adequação do PPRA (NR 9) e do PCMSO (NR 7) e seu cumprimento por parte da
empresa, além de outros regulamentos – sanitários e ambientais – existentes nos estados e municípios.

Suspeita ou confirmada a relação da doença com o trabalho, deve- se:
- informar ao trabalhador;
- examinar os expostos, visando a identificar outros casos;
- notificar o caso aos sistemas de informação do SUS, à DRT/MTE e ao sindicato da categoria;
- providenciar a emissão da CAT, caso o trabalhador seja segurado pelo SAT da Previdência Social,
conforme descrito no capítulo 5;
- orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação ou
controle dos fatores de risco.
Os procedimentos para a vigilância da exposição ao benzeno e a normatização específica vigente no Brasil estão
descritos no protocolo Anemia aplástica devida a outros agentes externos (8.3.4), neste capítulo, e para a exposição às
radiações ionizantes, no protocolo Neoplasia maligna dos ossos e cartilagens articulares dos membros (7.6.7), no capítulo 7.



Fonte: Doenças do Trabalho

Síndromes mielodisplásicas - Tratamento de Saúde

Síndromes mielodisplásicas - Tratamento de Saúde

4 TRATAMENTO E OUTRAS CONDUTAS
O tratamento visa à correção das citopenias. O uso de andrógenos (danazol, fluoximesterona) tem
apresentado resultados conflitantes. Alguns estudos sugerem melhora da anemia com a associação de eritropoetina e
granuloquinas. O transplante de medula é uma opção de tratamento.
A mielodisplasia evolui, geralmente, para o óbito. Cerca de 60 a 80% dos pacientes falecem em decorrência
das complicações, como, por exemplo, infecção aguda, hemorragia ou por doenças associadas. Cerca de 10 a 20%
permanecem estáveis e falecem por causas não-relacionadas com a doença. No caso de benzeno e radiações ionizantes,
o risco de transformação para leucemia mielógena aguda depende da porcentagem de blastos na medula óssea.
Pacientes com anemia refratária podem sobreviver muitos anos, e o risco de leucemia é baixo (menor que 10%). Aqueles com
excesso de blastos ou leucemia mielógena crônica apresentam sobrevida curta, geralmente inferior a 2 anos, e têm
risco maior (20 a 50%) de desenvolverem leucemia aguda. O transplante alogênico de medula óssea é a única terapia
definitiva, embora seja difícil determinar a melhor época, dado o amplo espectro de possibilidades prognósticas.
O estagiamento nas síndromes mielodisplásicas confunde-se com os conceitos de evolução e prognóstico.
Podem ser utilizados os critérios propostos para anemias e/ou para as doenças dos glóbulos brancos. Critérios utilizados
para o estagiamento das deficiências decorrentes das anemias são apresentados no Quadro XVI.
Após instalada a SMD, devem ser evitadas novas exposições aos agentes lesivos e deve-se acompanhar
o paciente quanto aos riscos de hemorragias, infecções e transformação blástica.



Fonte: Doenças do Trabalho

Síndromes mielodisplásicas - Quadro clínico e diagnóstico

Síndromes mielodisplásicas - Quadro clínico e diagnóstico

3 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
A sintomatologia está relacionada com a presença de anemia, de instalação insidiosa, que posteriormente
pode estar acompanhada de hemorragias (secundárias à plaquetopenia) e infecções (secundárias à leucopenia). A
maioria dos pacientes morre quando há evolução para pancitopenia.
O hemograma mostra citopenia (isolada ou múltipla). A hematoscopia pode mostrar neutrófilos
hipogranulados, blastos e hiato leucêmico. A morfologia dos eritrócitos pode ser normal, mostrar hipocromia ou ainda
macrócitos gigantes. As plaquetas são geralmente grandes e pouco granuladas. A medula está usualmente normocelular,
podendo, entretanto, apresentar hiper ou hipocelularidade. Pode haver hipodesenvolvimento granulocítico,
megacariócitos bilobulados anões, sideroblastos e normoblastos gigantes multinucleados.



Fonte: Doenças do Trabalho

Síndromes mielodisplásicas - Epidemiologia e Fatores de risco

Síndromes mielodisplásicas - Epidemiologia e Fatores de risco

2 EPIDEMIOLOGIA – FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL CONHECIDOS
As síndromes mielodisplásicas são, geralmente, consideradas idiopáticas, mas têm sido observadas após
quimioterapia citotóxica, especialmente procarbazina para a doença de Hodgking
e melfalan para o mieloma múltiplo ou
carcinoma de ovário. Também o cloranfenicol, a colchicina e o óxido nitroso têm sido relacionados a essas síndromes,
assim como o uso de antiinflamatórios não-hormonais, como a fenilbutazona.
Alguns fatores predisponentes para a SMD são genéticos. Em alguns pacientes há fragilidade cromossômica
ou inabilidade do DNA em reparar os efeitos sofridos após exposição à radiação ionizante. Como conseqüência, ocorrem
aberrações no DNA que estimulam certos oncogenes. Deve-se proceder à vigilância das exposições ocupacionais ou
ambientais das pessoas aos agentes alquilantes, fenilbutazona, inseticidas, pesticidas e solventes orgânicos.

A exposição ocupacional ao benzeno e às radiações ionizantes mostra associação causal com o
desenvolvimento de síndromes mielodisplásicas.
No caso do benzeno, as mielodisplasias são ligadas a exposições a concentrações relativamente elevadas.
Na atualidade, deve ser valorizada a exposição ao benzeno em indústrias petroquímicas e químicas, laboratórios e nas
grandes siderúrgicas que têm coquerias e unidades de carboquímicos, em geral anexas. Em teores baixos, por vezes
traços, pode haver exposição ao benzeno pelo uso de solventes em tintas, vernizes, thinners, removedores, desengraxantes,
querosene e colas. Na manipulação da gasolina é pequena a probalidade de ocorrência de mielodisplasia em virtude dos
baixos teores de benzeno (0,8 a 3%) contidos nesse combustível. É importante notar que um valor de 3% de benzeno, em
produtos acabados, ultrapassa o limite determinado pela Portaria Interministerial/MS/MTb n.º 3/1982.
Além do benzeno, várias outras substâncias podem estar ligadas às mielodisplasias, como os compostos
arsenicais e o óxido de etileno. Outras substâncias provavelmente associadas a mielodisplasias são:
- solventes 2-etoxietanol e o 2-metoxietanol (éteres de glicol);
- TNT (explosivo);
- dinitrofenol;
- pentaclorofenol (PCP, também conhecido no Brasil como pó da China);
- hexaclorociclohexano (HCH, ou lindano, também denominado popularmente de BHC);
- p-hidroquinona (sólido de pouca importância ocupacional, podendo ser um dos metabólitos do benzeno,
responsável pela mielotoxicidade desse produto).
Estireno (monômero do poliestireno), 2- butoxietanol (éter de glicol), clorobenzeno, diclorobenzeno e
inseticidas organoclorados, dieldrin e o heptaclor estão ainda fracamente associados a mielodisplasia.
Em trabalhadores expostos a essas substâncias químicas, em que as outras causas de SMD não-
ocupacionais foram excluídas, elas podem ser classificadas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo I da
Classificação de Schilling, em que o trabalho, particularmente na exposição ocupacional ao benzeno e às radiações
ionizantes, pode ser considerado como causa necessária. É pouco provável que a doença se desenvolva na ausência
dessa condição.



Fonte: Doenças do Trabalho

Síndromes mielodisplásicas - Definição da Doença

Síndromes mielodisplásicas - Definição da Doença

8.3.1 SÍNDROMES MIELODISPLÁSICAS CID-10 D46.-

1 DEFINIÇÃO DA DOENÇA – DESCRIÇÃO
As síndromes mielodisplásicas (SMD) constituem um grupo de doenças clonais adquiridas da célula primordial
hematopoética. São caracterizadas por citopenia, medula hipercelular e anormalidades morfológicas variadas. Apesar
da presença de número adequado de células primordiais hematopoéticas, ocorre hematopoese inefetiva, resultando
em várias citopenias. São entidades de curso crônico, duração variável e podem preceder o aparecimento de leucemia
mielógena aguda, que pode ocorrer em 10 a 40% dos casos, sendo as SMD denominadas, por alguns, como pré-
leucemia.



Fonte: Doenças do Trabalho

Proibição do Benzeno no Brasil

Proibição do Benzeno no Brasil

No caso do benzeno, que tem uma ação mielotóxica bem conhecida, devem ser seguidas as diretrizes da
Portaria/MTb n.º 14/1995 e Instrução Normativa/MTb n.º 1/1995, que definem a metodologia de avaliação das
concentrações de benzeno em ambientes de trabalho e o desenvolvimento do Programa de Prevenção da Exposição
Ocupacional ao Benzeno (PPEOB), pelo empregador, processadoras e utilizadoras de benzeno.
O Valor de Referência
Tecnológico (VRT) estabelecido para o benzeno é de 1,0 ppm para as empresas mencionadas no Anexo n.º 13-A, e de
2,5 ppm para as siderúrgicas. As empresas produtoras de álcool anidro devem substituir o benzeno.
A Portaria Interministerial/MS/MTb n.º 3/1982 proibiu em todo território nacional
a fabricação de produtos que contenham benzeno em sua composição, admitindo, porém, a presença dessa substância como agente contaminante
com percentual não superior a 1%, em volume.
Dessa forma, a partir do final dos anos 80, a presença de benzeno nos
solventes usados em tintas, vernizes, thinners, colas, etc. não tem sido constatada,
exceto em níveis de traços.
Apenas a gasolina ainda contém um teor de benzeno que pode variar de 0,5 a 3% dependendo
do tipo e da forma de produção e, assim, esse combustível ainda oferece risco de leucemia.
Deve-se, ainda, ressaltar que outros derivados de petróleo, como querosene,
gás liquefeito de petróleo (GLP), óleo diesel, óleo combustível, óleos lubrificantes,
entre outros, não possuem benzeno, a não ser em quantidades desprezíveis em termos ocupacionais.
A despeito disso, recomenda-se manter fiscalização periódica, mediante a obrigatoriedade
de as empresas produtoras comprovarem os teores de benzeno em seus produtos acabados.

A exposição às radiações ionizantes deve ser limitada com o controle das fontes de radiação, tanto em
ambientes industriais quanto em serviços de saúde.
Devem ser observadas as Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica
em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico, definidas pela Portaria/MS n.º 453/1998.
Os equipamentos devem ter dispositivos de segurança, anteparos de proteção e
sofrer manutenção preventiva rigorosa; as salas e setores devem ser dotados de sinalização,
proteção e blindagem; os procedimentos operacionais e de segurança devem ser bem
definidos, incluindo situações de acidentes e emergências; o pessoal deve receber treinamento adequado e ser
supervisionado; os equipamentos e fontes devem ser posicionados o mais distante possível dos trabalhadores; deve-
se diminuir o número de trabalhadores nesses setores e o tempo de exposição.
A Lei Federal n.º 7.802/1989 e algumas leis estaduais e municipais proíbem a utilização de agrotóxicos
organoclorados, não devendo, portanto, ser autorizada a sua fabricação e comercialização. Outros grupamentos de
agrotóxicos também têm sua produção, comercialização, utilização, transporte e destinação definidos por essa lei.
Alguns estados e municípios possuem regulamentações complementares que devem ser obedecidas. Recomenda-se
observar o cumprimento, pelo empregador, das Normas Regulamentadoras Rurais (NRR), Portaria/MTb n.º 3.067/
1988, especialmente a NRR 5, que dispõe sobre os produtos químicos, agrotóxicos e afins, fertilizantes e corretivos.
Especial atenção deve ser dada à proteção de trabalhadores envolvidos nas atividades de preparação de caldas e
aplicação desses produtos.
As NR 7 e 15, da Portaria/MTb n.º 3.214/1978, devem ser consultadas, pois definem parâmetros para a
vigilância dos danos ou efeitos sobre a saúde dos trabalhadores no Brasil.


8.3 LISTA DE DOENÇAS DO SANGUE E DOS ÓRGÃOS HEMATOPOÉTICOS RELACIONADAS AO TRABALHO,
DE ACORDO COM A PORTARIA/MS N.º 1.339/1999
- Síndromes mielodisplásicas (D46.-)
- Outras anemias devidas a transtornos enzimáticos (D55.8)
- Anemia hemolítica adquirida (D59.-)
- Anemia aplástica devida a outros agentes externos (D61.2) e anemia aplástica não-especificada (D61.9)
- Púrpura e outras manifestações hemorrágicas (D69.-)
- Agranulocitose (neutropenia tóxica) (D70)
- Outros transtornos especificados dos glóbulos brancos: leucocitose, reação leucemóide (D72.8)
- Metahemoglobinemia (D74.-)




Fonte: Doenças do Trabalho

A prevenção das doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos

A prevenção das doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos

A prevenção das doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos relacionadas ao trabalho
baseia-se nos procedimentos da vigilância em saúde do trabalhador:
vigilância dos ambientes e condições de trabalho e vigilância
dos agravos à saúde.
Utiliza conhecimentos da clínica, da epidemiologia, da higiene do trabalho, da toxicologia, da
ergonomia e da psicologia, entre outras disciplinas, bem como da percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e a
saúde e das normas técnicas e regulamentos vigentes. Esses procedimentos podem ser resumidos em:
- reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam substâncias químicas, agentes
físicos e/ou biológicos e fatores de risco, decorrentes da organização do trabalho, potencialmente
causadores de doença;
- identificação dos problemas ou danos para a saúde, potenciais ou presentes, decorrentes da exposição
aos fatores de risco identificados;
- identificação e proposição de medidas de controle que devem ser adotadas para a eliminação ou
controle da exposição aos fatores de risco e para a proteção dos trabalhadores;
- educação e informação aos trabalhadores e empregadores.

A partir da confirmação do diagnóstico da doença e de sua relação com o trabalho, seguindo os procedimentos
descritos no capítulo 2, os serviços de saúde responsáveis pela atenção ao trabalhador devem implementar as seguintes
ações:
- avaliação da necessidade de afastamento (temporário ou permanente) do trabalhador da exposição,
do setor de trabalho ou do trabalho como um todo;
- se o trabalhador é segurado pelo SAT da Previdência Social, solicitar a emissão da CAT à empresa,
preencher o LEM e encaminhar ao INSS. Em caso de recusa de emissão da CAT pela empresa, o
médico assistente (ou serviço médico) deve fazê-lo;
- acompanhamento da evolução do caso, registro de pioras e agravamento da situação clínica e sua
relação com o retorno ao trabalho;
- notificação do agravo ao sistema de informação de morbidade do SUS, à DRT e ao sindicato da categoria
do trabalhador;
- implementar as ações de vigilância epidemiológica visando à identificação de ocorrência da doença,
por meio da busca ativa de outros casos na mesma empresa ou no ambiente de trabalho ou em outras
empresas do mesmo ramo de atividade na área geográfica;
- se necessário, complementar a identificação do agente (químico, físico ou biológico) e das condições
de trabalho determinantes do agravo e de outros fatores de risco que podem estar contribuindo para a
ocorrência;
- inspeção na empresa ou no ambiente de trabalho onde trabalhava o paciente ou em outras empresas
do mesmo ramo de atividade na área geográfica, procurando identificar os fatores de risco para a
saúde, as medidas de proteção coletiva, equipamentos e medidas de proteção individual utilizados;
- identificação e recomendação ao empregador quanto às medidas de proteção e às recomendações a
serem adotadas, informando-as aos trabalhadores.
As medidas de proteção e prevenção da exposição aos fatores de risco presentes no trabalho incluem:
- substituição de tecnologias de produção por outras menos arriscadas para a saúde;
- isolamento do agente/substância ou enclausuramento do processo;
- medidas rigorosas de higiene e segurança no trabalho, como, por exemplo, a adoção de sistemas de
ventilação exaustora local e geral adequados e eficientes; utilização de capelas de exaustão; controle
de vazamentos e incidentes mediante manutenção preventiva e corretiva de máquinas e equipamentos
e acompanhamento de seu cumprimento;
- monitoramento ambiental sistemático e adoção de sistemas seguros de trabalho, operacionais e de
transporte; classificação e rotulagem das substâncias químicas segundo propriedades toxicológicas e
toxicidade;
- informação e comunicação dos riscos aos trabalhadores;
- manutenção de condições ambientais gerais e de conforto adequadas para os trabalhadores e facilidades
para higiene pessoal, como instalações sanitárias adequadas, banheiros, chuveiros, pias com água
limpa corrente e em abundância, vestuário adequado e limpo diariamente;
- diminuição do tempo de exposição e do número de trabalhadores expostos;
- fornecimento de equipamentos de proteção individual adequados e com manutenção indicada, de modo
complementar às medidas de proteção coletiva.



Fonte: Doenças do Trabalho