Monday, February 16, 2015

Doenças do sistema nervoso

Doenças do sistema nervoso

Capítulo 11
DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO
RELACIONADAS AO TRABALHO
(Grupo VI da CID-10)
11.1 INTRODUÇÃO
A vulnerabilidade do sistema nervoso aos efeitos da exposição ocupacional e ambiental a uma gama de
substâncias químicas, agentes físicos e fatores causais de adoecimento, decorrentes da organização do trabalho, tem
ficado cada vez mais evidente, traduzindo-se em episódios isolados ou epidêmicos de doença nos trabalhadores.
As manifestações neurológicas das intoxicações decorrentes da exposição ocupacional a metais pesados,
aos agrotóxicos ou a solventes orgânicos, e de outras doenças do sistema nervoso relacionadas às condições de
trabalho, costumam receber o primeiro atendimento na rede básica de serviços de saúde. Quando isso ocorre, é
necessário que os profissionais que atendem a esses trabalhadores estejam familiarizados com os principais agentes
químicos, físicos, biológicos e os fatores decorrentes da organização do trabalho, potencialmente causadores de doença,
para que possam caracterizar a relação da doença com o trabalho, possibilitando o diagnóstico correto e o
estabelecimento das condutas adequadas.
Entre as formas de comprometimento neurológico que podem estar relacionadas ao trabalho estão, por
exemplo, ataxia e tremores semelhantes aos observados em doenças degenerativas do cerebelo (ataxia de Friedreich),
que podem resultar de exposições ao tolueno, mercúrio e acrilamida. Lesões medulares, semelhantes às que ocorrem
na neurossífilis, na deficiência de vitamina B12 e na esclerose múltipla, podem ser causadas pela intoxicação pelo tri-
orto-cresilfosfato. Manifestações de espasticidade, impotência e retenção urinária, associadas à esclerose múltipla,
podem decorrer da intoxicação pela dietilaminoproprionitrila. A doença de Parkinson secundária, um distúrbio de
postura, com rigidez e tremor, pode resultar de efeitos tóxicos sobre os núcleos da base do cérebro, decorrentes da
exposição ao monóxido de carbono, ao dissulfeto de carbono e ao dióxido de manganês. Manifestações de compressão
nervosa, como na síndrome do túnel do carpo, podem estar relacionadas ao uso de determinadas ferramentas e
posturas adotadas pelo trabalhador no desempenho de suas atividades. Para o diagnóstico diferencial, a história
ocupacional e um exame neurológico acurado são fundamentais.
De acordo com o critério adotado na organização deste manual, utilizando a taxonomia proposta pela CID-
10, estão incluídas, neste capítulo, algumas doenças consideradas no grupo LER/DORT:
transtornos do plexo braquial,
mononeuropatias dos membros superiores e mononeuropatias dos membros inferiores. Os interessados nesse grupo
de doenças devem consultar, também, o capítulo 18 do manual que trata das Doenças do Sistema Osteomuscular e do
Tecido Conjuntivo Relacionadas ao Trabalho.

Neste capítulo serão apresentadas as doenças neurológicas reconhecidas como relacionadas ao trabalho
pela Portaria/MS n.º 1.339/1999. São descritos, de modo resumido, manifestações de neurotoxicidade, aspectos
epidemiológicos, procedimentos propedêuticos básicos, diagnóstico diferencial e condutas a serem adotadas para
com o paciente e aquelas de vigilância em saúde do trabalhador.
Considerando a especificidade da utilização da ressonância magnética, da tomografia computadorizada,
dos estudos eletromiográficos, dos testes neurocomportamentais, bem como de outras condutas, os métodos
propedêuticos deverão ser assumidos pelo especialista em níveis mais complexos de atenção do sistema de saúde e
fogem dos objetivos deste manual. Entretanto, isso não diminui a responsabilidade e a necessidade de que os profissionais
da atenção básica estejam capacitados a fazer o primeiro atendimento do trabalhador, a estabelecer o diagnóstico,
ainda que presuntivo, e a encaminhar as ações decorrentes, no âmbito da vigilância e prevenção. Muitas vezes,
deverão assumir, também, o acompanhamento posterior do paciente.
Semelhante ao que ocorre em outras doenças ocupacionais, na maioria dos casos, as neurológicas
relacionadas ao trabalho não têm tratamento específico. Porém, alguns procedimentos devem ser adotados pelos
profissionais dos serviços de saúde diante da suspeita ou da confirmação de uma doença, dos quais se destacam:
- afastamento da exposição, nos casos em que a permanência na atividade possa contribuir para o
agravamento do quadro;
- suporte de ordem geral para alívio da sintomatologia e melhoria da qualidade de vida do
paciente.



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