Thursday, November 27, 2014

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

Capítulo 9
DOENÇAS ENDÓCRINAS, NUTRICIONAIS E METABÓLICAS
RELACIONADAS AO TRABALHO
(Grupo IV da CID-10)
9.1 INTRODUÇÃO
Os efeitos ou danos sobre os sistemas endócrino, nutricional e metabólico, decorrentes da exposição
ambiental e ocupacional a substâncias e agentes tóxicos são, ainda, pouco conhecidos.
Porém, ainda que necessitando
de estudos mais aprofundados, as seguintes situações de trabalho são reconhecidas como capazes de produzir doenças:
- utilização de ferramentas vibratórias, como os marteletes pneumáticos.
Associado à síndrome de Raynaudg, uma doença vascular periférica (ver protocolo no capítulo 14), tem sido observado o
comprometimento dos sistemas endócrino e nervoso central expresso por disfunção dos centros cerebrais
autônomos, que necessita ser melhor avaliado;
- extração e manuseio de pedra-pome, provocando deficiência adrenal;
- produção e uso de derivados do ácido carbâmico (carbamatos), utilizados como pesticidas, herbicidas
e nematocidas. Os tiocarbamatos são utilizados, também, como aceleradores da vulcanização e seus
derivados empregados no tratamento de tumores malignos, hipóxia, neuropatias e doenças provocadas
pela radiação. Por mecanismo endócrino, são mutagênicos e embriotóxicos;
- em expostos ao chumbo tem sido observada forte correlação inversa entre a plumbemia e os níveis de
vitamina D, alterando a homeostase extra e intracelular do cálcio e interferindo no crescimento e
maturação de dentes e ossos. Também tem sido descrita a ocorrência de hipotireoidismo decorrente de
um acometimento da hipófise;
- a exposição ao dissulfeto de carbono (CS2) é reconhecida por seus efeitos sobre o metabolismo lipídico,
acelerando o processo de aterosclerose (também conhecida como arteriosclerose).

A literatura especializada tem dado destaque ao papel desempenhado por certas substâncias químicas
sintéticas, os disruptores endócrinos, que interferem nos hormônios naturais, nos neurotransmissores e nos fatores de
crescimento, produzindo doença, muitas vezes, de difícil reconhecimento. Por exemplo, a exposição intra-uterina ao
dietilestilbestrol (DES), um hormônio sintético, pode levar a alterações no aparelho reprodutor das mulheres, como a
cornificação do epitélio vaginal, adenocarcinoma de células claras vaginais e outros problemas para a reprodução, que
somente serão identificados na idade adulta. Outros efeitos dos disruptores endócrinos, entre eles, a redução do
quociente de inteligência (QI), alterações comportamentais e imunológicas, doença tireoidiana e alterações do aparelho
reprodutor, como hipospádia, criptorquidismo, câncer testicular, qualidade do sêmen e contagem de espermatozóides,
poderão permanecer sem diagnóstico e/ou sem nexo com a exposição prévia, ao longo da vida dos indivíduos acometidos.
Um grande número de substâncias têm sido reconhecidas como disruptores endócrinos e tóxicos para a
reprodução, particularmente pesticidas, herbicidas, fungicidas, inseticidas, nematocidas e agentes químicos industriais,
como 4-OH alquilfenol, 4-OH bifenil, cádmio, dioxina, chumbo, mercúrio, PBB, PCB, pentaclorofenol, ftalatos, estireno,
entre outros. Elas atuam por diferentes mecanismos de ação classificados em seis categorias gerais:
- ligando-se aos receptores e realçando os efeitos como antagonistas;
- bloqueando os receptores e inibindo os efeitos como antagonistas;
- atuando diretamente com os hormônios endógenos;
- interferindo indiretamente nos hormônios endógenos ou noutros mensageiros químicos naturais;
- alterando a esteroidogênese, o metabolismo e a excreção;
- alterando os níveis de receptores hormonais.

É importante lembrar que um contaminante pode interferir na homeostase de mais de uma maneira e que,
em certos casos, a toxicidade depende mais do tempo de exposição do que da dose.
Os efeitos dos disruptores endócrinos durante o desenvolvimento significam um desafio para os profissionais
por seu caráter insidioso e por, muitas vezes, agirem mais na redução das funções do que provocando uma doença
propriamente dita. Representa uma nova fronteira do conhecimento à qual os profissionais da Saúde do Trabalhador
devem dar sua contribuição.



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