Wednesday, December 10, 2014

Transtornos mentais e do comportamento

Transtornos mentais e do comportamento

CAPÍTULO 10

* Sobre Psicodinâmica do Trabalho, ver também a introdução do capítulo 18
– Doenças do Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo Relacionadas ao Trabalho.
Capítulo 10
TRANSTORNOS MENTAIS E DO COMPORTAMENTO
RELACIONADOS AO TRABALHO
(Grupo V da CID-10)

10.1 INTRODUÇÃO*
Segundo estimativa da OMS, os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores
ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%.
No Brasil, dados do INSS sobre a concessão de benefícios previdenciários de auxílio-doença,
por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias e de aposentadoria
por invalidez, por incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os transtornos mentais,
com destaque para o alcoolismo crônico, ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas
ocorrências (Medina, 1986).
Em nossa sociedade, o trabalho é mediador de integração social, seja por seu valor econômico (subsistência),
seja pelo aspecto cultural (simbólico), tendo, assim, importância fundamental na constituição da subjetividade, no
modo de vida e, portanto, na saúde física e mental das pessoas. A contribuição do trabalho para as alterações da saúde
mental das pessoas dá-se a partir de ampla gama de aspectos: desde fatores pontuais, como a exposição a determinado
agente tóxico, até a complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e parcelamento
das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura hierárquica organizacional. Os transtornos mentais
e do comportamento relacionados ao trabalho resultam, assim, não de fatores isolados, mas de contextos de trabalho
em interação com o corpo e aparato psíquico dos trabalhadores. As ações implicadas no ato de trabalhar podem atingir
o corpo dos trabalhadores, produzindo disfunções e lesões biológicas, mas também reações psíquicas às situações de
trabalho patogênicas, além de poderem desencadear processos psicopatológicos especificamente relacionados às
condições do trabalho desempenhado pelo trabalhador.
Em decorrência do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo fonte de garantia
de subsistência e de posição social, a falta de trabalho ou mesmo a ameaça de perda do emprego geram sofrimento
psíquico, pois ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador e de sua família.
Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui, gerando sentimentos de menos-valia, angústia, insegurança, desânimo e
desespero, caracterizando quadros ansiosos e depressivos.
O atual quadro econômico mundial, em que as condições de insegurança no emprego, subemprego e a
segmentação do mercado de trabalho são crescentes, reflete-se em processos internos de reestruturação da produção,
enxugamento de quadro de funcionários, incorporação tecnológica, repercutindo sobre a saúde mental dos trabalhadores.
O trabalho ocupa, também, um lugar fundamental na dinâmica do investimento afetivo das pessoas.
Condições favoráveis à livre utilização das habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos trabalhadores
têm sido identificadas como importantes requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e saúde,
deixando de provocar doenças. Por outro lado, o trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não-reconhecido
ou que se constitua em fonte de ameaça à integridade física e/ou psíquica, pode desencadear sofrimento psíquico.
Situações variadas como um fracasso, um acidente de trabalho, uma mudança de posição (ascensão ou
queda) na hierarquia freqüentemente determinam quadros psicopatológicos diversos, desde os chamados transtornos
de ajustamento ou reações ao estresse até depressões graves e incapacitantes, variando segundo características do
contexto da situação e do modo do indivíduo responder a elas.
O processo de comunicação dentro do ambiente de trabalho, moldado pela cultura organizacional, também
é considerado fator importante na determinação da saúde mental. Ambientes que impossibilitam a comunicação
espontânea, a manifestação de insatisfações, as sugestões dos trabalhadores em relação à organização ou ao trabalho
desempenhado provocarão tensão e, por conseguinte, sofrimento e distúrbios mentais. Freqüentemente, o sofrimento
e a insatisfação do trabalhador manifestam-se não apenas pela doença, mas nos índices de absenteísmo, conflitos
interpessoais e extratrabalho.



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