Sunday, May 15, 2016

A Contribuição da análise ergonômica do trabalho

A Contribuição da análise ergonômica do trabalho

2.1 A CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
Os estudos sistemáticos das situações de trabalho, principalmente aqueles assentados na análise ergonômica
da atividade, têm como objetivo compreender como o trabalhador faz para desenvolver ou realizar a sua tarefa. A
análise ergonômica coloca em evidência que as tarefas são variáveis ao longo da jornada de trabalho e que o indivíduo,
ele mesmo, é submetido às variações do seu estado interno, como, por exemplo, o ciclo vigília-sono, os efeitos do
avançar em idade, a história pregressa, a sua personalidade, a sua maneira de se comportar face aos imprevistos, etc.
Por isso, os fatores de risco devem ser avaliados no contexto organizacional onde o trabalhador está inserido.
Por exemplo, um caixa de banco, numa estação de trabalho em que os objetos são dispostos em uma mesa
em “U”, projetada para o conforto do usuário, ao invés de movimentar a sua cadeira (móvel) ao longo da bancada, torce
o tronco, mantendo a cadeira fixa, contrariando a prescrição dita ergonômica, para, ao mesmo tempo, manipular os
equipamentos e não virar as costas para o cliente. Esse comportamento ilustra o fato de que abordar apenas os
aspectos materiais de trabalho (por exemplo, a troca do mobiliário) pode não diminuir as queixas dos trabalhadores
quanto às condições de trabalho, principalmente no tocante à saúde. O bancário em questão explica que se virasse as
costas para o cliente, evitando a torção do tronco, ficaria inseguro diante do numerário que está sob a sua responsabilidade.

Os resultados dos estudos ergonômicos permitem afirmar que as mudanças nos ambientes de trabalho,
recomendadas pelos estudos biomecânicos, podem gerar uma nova perturbação, como, por exemplo, a instalação de
estações de trabalho mais apropriadas do ponto de vista antropométrico, mas que impedem os trabalhadores de se
comunicarem e de trocarem informações necessárias para atender ao cliente. A mudança provoca um prejuízo na
elaboração de mecanismos de cooperação, cujo objetivo é regular as exigências de conhecimentos específicos sobre
o processo em questão. Ou seja, além de enfrentar a imprevisibilidade da demanda, o trabalhador terá mais dificuldades
para adotar estratégias que possam facilitar a realização da tarefa, pois houve a diminuição das margens que lhe
permitiam reorganizar os modos operatórios.

A carga de trabalho não é determinada apenas pelos aspectos físicos do trabalho. Ela aumenta, por exemplo,
se o trabalhador necessita interromper uma seqüência comportamental organizada para atender ao cliente que chega
ou, então, quando um determinante externo provoca um fluxo inesperado de usuários ao serviço. As estratégias de
antecipação são fundamentais para evitar as situações de urgência, que perturbam o andamento da produção e
podem ameaçar o cumprimento dos objetivos propostos. Quer dizer, o indivíduo reage à variabilidade da produção, aos
seus imprevistos, reorganiza a sua atividade, muda os modos operatórios, estabelece estratégias de repartição das
tarefas, etc. Se a organização do trabalho não favorece a elaboração de estratégias, o indivíduo estará mais exposto
aos riscos descritos na norma técnica do INSS.

A postura de trabalho não depende, então, apenas do mobiliário, pois ela é determinada sobretudo pelo
objetivo da ação do trabalhador que busca atingir as metas da produção, pelos meios disponíveis. Diante desse fato,
coloca-se a questão: como entender, no consultório, os objetivos que o trabalhador estabelece no curso de sua ação e
que poderiam ser contraditórios com as condições de trabalho e com a biomecânica?
O estudo desses mecanismos de antecipação ou de compensação implementados em situações reais de
trabalho, face aos imprevistos da produção, adquire importância quando se pretende prevenir os problemas
osteomusculares.


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