Wednesday, May 18, 2016

O trabalho das recepcionistas de hipermercado e seus riscos à saúde

O trabalho das recepcionistas de hipermercado e seus riscos à saúde

É importante considerar os diversos aspectos envolvidos na tarefa.
Por exemplo, para um caixa de
supermercado, as exigências de atenção durante o registro dos artigos pode gerar uma carga mental que exacerba a
carga muscular e pode levar ao adoecimento.
Toda atividade profissional é orientada para a execução de uma produção dentro de um contexto material
e temporal definido. Por exemplo, uma das características do contexto de trabalho em hipermercado é a variabilidade
das situações: os momentos de pico ou as interrupções, seja para orientar o cliente que volta depois de ter sido
atendido, seja do colega que solicita uma ajuda, das falhas do sistema técnico ou da inadequação do sistema, entre
outras situações. Analisar as características desse contexto permite identificar os fatores, chamados, pela ergonomia,
de determinantes externos da postura e dos gestos.

O trabalho das recepcionistas de hipermercado, pelas características descritas acima, implica uma importante
carga mental, além da nítida exigência física para transladar os artigos sobre o scanner. O conteúdo, a natureza das
tarefas e a insatisfação no trabalho, que elas geram, podem aumentar a atividade muscular estática cervical e provocar
dor no decorrer do tempo. Segundo autores que estudam a questão, a pressão temporal e a monotonia têm sido
relacionadas ao risco de problemas na coluna, pescoço ou ombro, tanto para sintomas auto-relatados como para sinais
e sintomas identificados no exame físico.
Em indivíduos estressados e tensos, a atividade muscular normal de repouso é mais elevada do que a
média. Como conseqüência, a pressão entre os discos que separam as vértebras lombares seria também maior e,
mais tarde, provavelmente, resultaria em patologias específicas da coluna.
Tarefas que comportam uma sobrecarga mental acarretam a liberação de hormônios catecolaminas, que,
por sua vez, podem agravar a carga muscular estática, além do que seria esperado em função apenas da postura. A
carga muscular dinâmica (aquela provocada pelos movimentos) também pode ser intensificada pelo aumento da
freqüência de estímulos ao nível da unidade motora. Essa atividade muscular adicional poderá contribuir para a
sobrecarga muscular global.

As tarefas que solicitam tratamento controlado de informações e ainda atenção múltipla, como tomada de
decisões e amabilidade com o público, podem explicar os sintomas de fadiga, que pode ser agravada em presença de
ruído. Os estudos mostram que o ruído originado de fontes variadas, como sinal sonoro das leitoras vizinhas, conversas
paralelas, equipamentos e outros, é perturbador das atividades mentais. Aumenta a exigência cognitiva e essa interfere
sobre os efeitos da carga física sobre o aparelho músculo-esquelético.

Todos esses elementos, apesar de serem heterogêneos, como os fatores orgânicos (do indivíduo), fatores
materiais (mobiliário) e organizacionais (da produção), além de serem adicionados, podem integrar-se em um conjunto.
Se o trabalhador puder estabelecer estratégias para evitar o risco, a doença terá menos chance de se manifestar. Ao
contrário, se as margens para que isso aconteça são estreitas, os limites do corpo serão ultrapassados e os sintomas
poderão aparecer. Por exemplo: a recepcionista do caixa de hipermercado pode se sentar para transladar os artigos se
a cadeira for compatível com a atividade e se a fila de clientes não for muito longa: “com a cadeira a gente perde a
agilidade (...) e em momentos de fila não é possível ficar sentada”, relata a recepcionista.
Os determinantes externos também podem influir sobre as metas da produção.
Por exemplo: em momentos de menor fluxo de clientes, as recepcionistas, quase que de maneira
sistemática, embalam os produtos, cumprindo assim a meta de bem servir ao cliente.
Mas, em períodos mais acelerados, essa conduta é limitada.


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