Thursday, May 12, 2016

Processos inflamatórios das estruturas músculo-esqueléticas

Processos inflamatórios das estruturas músculo-esqueléticas

Embora sejam ainda escassos os resultados dos estudos que têm como hipótese a origem psicossocial de
certos processos inflamatórios das estruturas músculo-esqueléticas, parece não haver dúvida de que as condições
psicossociais são importantes na determinação da capacidade individual de lidar com a doença, revelando-se, de
modo particular, nas situações ou processos de reabilitação e de reinserção no trabalho, após afastamento por problema
de dor músculo-esquelética.
O comportamento do indivíduo frente a um processo de dor não segue um curso linear, nem possui estágios
bem definidos. Ao contrário, ele depende da interação de vários elementos, como a percepção do sintoma, sua
interpretação, expressão e comportamentos de defesa. Nesse contexto, os fatores culturais e sociais devem ser
considerados. A sensação dolorosa é acompanhada de reações cognitivas e emocionais, podendo explicar o
comportamento dos indivíduos.
A dor não deve ser analisada somente do ponto de vista fisiológico, ou seja, como resultado de uma
estimulação dos receptores do sistema sensorial. Ela envolve uma conceituação mais ampla, pois o tipo e a intensidade
com que é sentida e expressada dependem da experiência prévia do indivíduo e da sua percepção quanto às implicações
futuras da injúria. Segundo resume Moon:
- dor não é uma sensação simples, mas uma experiência sensorial e emocional complexa;
- dor aguda e crônica diferem-se fundamentalmente;
- dor que cursa com neurofisiologia central reflete componentes sensorial-discriminativo (localização e
qualidade) e afetivo-emocional;
- os conhecimentos atuais em neurofisiologia permitem hipóteses ainda não completamente testadas;
- a ausência de danos ou de lesões físicas não justifica a aceitação de que a dor seja menos real ou
menos severa.

Tem sido observado que, quando há divergência entre o comportamento do paciente e as expectativas
biomédicas, é comum os organizadores da produção e os profissionais responsáveis pelo diagnóstico, tratamento e
reabilitação expressarem a idéia de que o paciente procura um ganho secundário ou se comporta anormalmente face
à doença ou, ainda, possui uma neurose de compensação (Moon).
Quando se menciona os fatores psicossociais em LER/DORT, fica a impressão de que algumas dores
estão apenas na mente dos pacientes e de que esses estão fingindo. Alguns consideram que os trabalhadores querem
obter ganhos secundários quando se queixam de dores. Se este for o caso, devem ser investigados quais seriam os
determinantes desse comportamento. Por outro lado, em muitos casos, a relação com o trabalho não é caracterizada
simplesmente porque não se realiza uma análise detalhada da situação.

Algumas patologias do grupo LER/DORT podem ser confirmadas por testes específicos, como, por exemplo,
nos casos em que o resultado da avaliação da função muscular é compatível com os achados ao exame físico. Em
outros casos, esse processo não é direto, mas a ausência de sinais objetivos não autoriza descartar a presença da
doença se o paciente continua a queixar-se de dor intensa. Torna-se necessário investigar a origem das queixas, as
quais nem sempre correspondem a lesões teciduais objetivas, mas podem expressar a singularidade humana face à
dor, face a uma situação difícil de trabalho ou, talvez, decorrer do fato da dor ser o resultado de um sofrimento maior.

Segundo Moon, “o paciente apresenta um problema e os seus sintomas físicos. O problema é medicado e
simbolizado com um diagnóstico físico. Os empregadores aceitam as recomendações de modificar as exigências de
trabalho ou as características do local de trabalho (implicadas com a causa primária do problema). O que acontece se
alguma ligação nesta cadeia perde a sua característica física? Qual é o risco ou o descrédito a que o paciente está
sujeito se o seu problema for considerado de natureza psicossocial?”
Lesões cumulativas explicadas por fatores biomecânicos causam dor, disfunção e danos, sendo, muitas
vezes, controversa a interpretação quando se investiga a relação com o trabalho. A identificação de marcadores objetivos
da doença ou dos desencadeadores dos sintomas depende da perícia, do entusiasmo e do conhecimento do examinador
sobre as manifestações da doença e da limitação das técnicas propedêuticas.
A sociedade espera que o médico interprete, verifique ou rejeite a legitimidade desses argumentos e fatos.
Sendo assim, o clínico precisa agir face à incerteza, avaliando causa e capacidade com base na organização legal e
burocrática, o que não é, absolutamente, uma tarefa fácil.

O reconhecimento do peso dos aspectos psicossociais pode ajudar, mas não justifica a negligência para
com os aspectos biomecânicos. Ao se considerar a intersecção de fatores psicossociais e socioculturais, é preciso
evitar o risco de se construir atribuições causais confusas, tais como:
- de ser irrelevante em casos biomecanicamente determinados;
- de negligenciar as diferenças clínicas entre os casos;
- de desconsiderar as características individuais;
- de desconsiderar os riscos biomecânicos evidentes.
Serão enfocadas, a seguir, duas formas de abordar a questão dos fatores de risco envolvidos em LER/

DORT: a caracterização proposta na Ordem de Serviço/INSS n.º 606/1998, que trata dos DORT, e a perspectiva
colocada pela ergonomia a partir da análise do trabalho.


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