Wednesday, June 11, 2014

A investigação das relações saúde-trabalho

A investigação das relações saúde-trabalho


A INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES SAÚDE-TRABALHO, O ESTABELECIMENTO
DO NEXO CAUSAL DA DOENÇA COM O TRABALHO E AS AÇÕES DECORRENTES
O reconhecimento do papel do trabalho na determinação e evolução do processo saúde-doença dos
trabalhadores tem implicações éticas, técnicas e legais, que se refletem sobre a organização e o provimento de ações
de saúde para esse segmento da população, na rede de serviços de saúde.
Nessa perspectiva, o estabelecimento da relação causal ou do nexo entre um determinado evento de
saúde – dano ou doença – individual ou coletivo, potencial ou instalado, e uma dada condição de trabalho constitui a
condição básica para a implementação das ações de Saúde do Trabalhador nos serviços de saúde. De modo
esquemático, esse processo pode se iniciar pela identificação e controle dos fatores de risco para a saúde presentes
nos ambientes e condições de trabalho e/ou a partir do diagnóstico, tratamento e prevenção dos danos, lesões ou
doenças provocados pelo trabalho, no indivíduo e no coletivo de trabalhadores.
Apesar de fugir aos objetivos deste texto, que trata dos aspectos patogênicos do trabalho, potencialmente
produtor de sofrimento, adoecimento e morte, é importante assinalar que, na atualidade, cresce em importância a
valorização dos aspectos positivos e promotores de saúde, também presentes no trabalho, que devem estar
contemplados nas práticas de saúde.
Neste capítulo serão apresentados, resumidamente, aspectos conceituais sobre as formas de adoecimento
dos trabalhadores e de sua relação com o trabalho, alguns dos recursos e instrumentos disponíveis para a investigação
das relações saúde-trabalho-doença e para o estabelecimento do nexo do dano/doença com o trabalho e as ações
decorrentes que devem ser implementadas. Ao final encontra-se relacionada uma bibliografia sugerida para o
aprofundamento do tema.

2.1 O ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES E SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO
Os trabalhadores compartilham os perfis de adoecimento e morte da população em geral, em função de
sua idade, gênero, grupo social ou inserção em um grupo específico de risco. Além disso, os trabalhadores podem
adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho, como conseqüência da profissão que exercem ou exerceram,
ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte dos
trabalhadores resultará da amalgamação desses fatores, que podem ser sintetizados em quatro grupos de causas
(Mendes & Dias, 1999):
- doenças comuns, aparentemente sem qualquer relação com o trabalho;
- doenças comuns (crônico-degenerativas, infecciosas, neoplásicas, traumáticas, etc.) eventualmente
modificadas no aumento da freqüência de sua ocorrência ou na precocidade de seu surgimento em
trabalhadores, sob determinadas condições de trabalho. A hipertensão arterial em motoristas de ônibus
urbanos, nas grandes cidades, exemplifica esta possibilidade;
- doenças comuns que têm o espectro de sua etiologia ampliado ou tornado mais complexo pelo trabalho.
A asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a perda auditiva induzida pelo ruído (ocupacional),
doenças músculo-esqueléticas e alguns transtornos mentais exemplificam esta possibilidade, na qual,
em decorrência do trabalho, somam-se (efeito aditivo) ou multiplicam-se (efeito sinérgico) as condições
provocadoras ou desencadeadoras destes quadros nosológicos;
- agravos à saúde específicos, tipificados pelos acidentes do trabalho e pelas doenças profissionais. A
silicose e a asbestose exemplificam este grupo de agravos específicos.
Os três últimos grupos constituem a família das doenças relacionadas ao trabalho.
A natureza dessa relação é sutilmente distinta em cada grupo.






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